Detalhe que passa despercebido, a
escolha das palavras em detrimento de outras sempre diz algo sobre nossa visão
de mundo, nossas posições e opiniões. Termos como joia, diamante e pedra
preciosa são comumente usados pela imprensa esportiva quando o assunto é uma
jovem promessa da base, essas expressões carregam com elas uma conotação
econômica. Até que ponto os significados dessas palavras, ou dessas escolhas, refletem
o modo como cada garoto da base é visto deve fomentar discussões.
Desde muito tempo o futebol deixou
de ser uma atividade que envolve só paixão, é mais uma atividade econômica - com
potencial pouco explorado no país, aliás. O que se espera do investimento feito nas
categorias de base é retorno, seja financeiro ou esportivo, logo é de certa
forma esperado que os jovens talentos sejam automaticamente transformados em
cifras nos conteúdos veiculados por nós da imprensa.
Fazer essa relação
investimento-jovem-mercadoria não inviabiliza necessariamente uma cobertura
mais preocupada com o desenvolvimento humano dos jogadores, mas
certamente não ajuda a quebrar o ciclo. As repetidas aparições dessas
expressões podem colaborar para a manutenção do jovem-mercadoria como visão
dominante no esporte.
Dassler Marques, jornalista que dedicou boa parte de sua carreira ao futebol de base analisa “Eu sempre faço esse exercício, se estamos ou
não supervalorizando essa situação, mas a verdade é que todo o entorno do
jogador jovem o empurra nessa direção de se ver como mercadoria ou como joia.
Tem garotos de 13 anos ou menos que recebem da Nike e da Adidas. Que recebem
luvas de agentes, que são tema de reportagens. Enfim, o futebol é assim.”
Ele considera que o universo do futebol de base precisa evoluir também em
outros aspectos “a base é o lugar onde possivelmente
haja o maior número de atitudes corruptas dentro dos clubes, pela dificuldade
em investigar”, lamenta o jornalista.
Para o professor José
Carlos Marques, líder do
GECEF (Grupo de Estudos em Comunicação Esportiva e Futebol) da UNESP, o
jovem no futebol é majoritariamente visto como mercadoria “O uso de
metáforas relacionadas ao mundo das finanças apenas sintetiza esse sentimento”,
explica. Já para Dassler Marques o uso da palavra joia, diamante, etc pode ter
outros significados “acho que
a ideia não precisa ser obrigatoriamente financeira. Mas sim fazer relação como
algo raro, que é tratado com cuidado, e evidentemente tem valor especial”,
argumenta.
Complementando a reflexão acerca do tema o professor José Carlos
afirma “a
imprensa não poderia representar apenas um espaço de reprodução das lógicas de
mercado, e sim um espaço de crítica e reflexão. Sob esta ótica, o ideal seria
que qualquer atleta - criança, jovem, adulto - fosse tratado de forma mais
humanizada, e não como uma simples peça de uma engrenagem.” Vale a pena
refletir também.
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