Quando se fala de legislação nas categorias de base o ECA, estatuto da criança e do adolescente, é o documento a ser observado antes de qualquer outro na escala jurídica. Filho da convenção sobre os direitos da criança, oficializada como lei internacional em 90, o ECA é do mesmo ano e segue os mesmos princípios que são os da doutrina da proteção integral, em palavras bem simples, segundo os dois documentos a criança deverá estar integralmente protegida durante o seu desenvolvimento como ser humano.
Sobre o assunto conversamos com Raquel Custódio, advogada militante na área cível e desportiva, membro da comissão de direito desportivo da OAB/São Paulo e presidente do tribunal de justiça desportiva da 21ª subseção da OAB, "a legislação protetiva da criança e do adolescente é recente. Hoje nós temos a doutrina da proteção integral, antigamente a criança era vista como objeto e hoje é vista como sujeito de direito", explica Raquel. Logo, antes de ser um jogador com potencial, um futuro craque, o cara que vai limpar o nome do futebol brasileiro do fiasco do 7 x 1, a criança é, nos termos da lei, apenas uma criança.
Fazer com que a criança e o adolescente seja vista de tal forma no mundo do futebol é uma missão que vai demandar trabalho e tempo, mas a advogada percebe alguma evolução nesse sentido "hoje nós estamos falando dos direitos da criança é uma coisa recente, da década de 90, hoje se pensa na criança, antes não se pensava", comemora Raquel.
Raquel Custódio, militante dos direitos da criança no futebol Foto/Arthur Sales |
No Brasil além do ECA, e abaixo dele na hierarquia das leis, o certificado de clube formador(CCF) é uma alteração na lei Pelé que age mais diretamente na vida dos jogadores da base. O instrumento, do início de 2012, lista uma série de pré-requisitos para que o clube seja considerado como formador e preenchidas as condições ele fica protegido por uma multa, caso o seu atleta escolha assinar o seu primeiro contrato de trabalho com uma instituição que não a sua o clube formador é ressarcido, mas Raquel é cética em relação ao CCF "acho que nós teríamos que ter outras formas de controle por que na verdade nenhum clube tem a obrigação de ser clube formador", lamenta. Além da não obrigatoriedade a alteração da lei mantém a lógica de objetificar os jovens jogadores.
Tampouco a fiscalização é adequada. A emissão desses certificados fica por conta das federações estaduais e é sabido que, essencialmente nos clubes pequenos, não existe recursos para garantir assistência médica, odontológica, psicológica, exigidos pela lei, muitas vezes esses profissionais prestam serviços "para inglês ver", como destaca o psicólogo do esporte João Ricardo Cozac "boa parte dos clubes acaba tendo um psicólogo que só assina ali a carteira e vai de vez em quando e tal mas não são profissionais que tem a qualificação, a compreensão, a vivência para trabalhar no esporte".
A preservação dos direitos da criança e do adolescente é um tema que enfrenta muitas barreiras, mais reais que legais, sobretudo no futebol, afinal "não é interesse dos grandes, das pessoas que lucram com isso, trazer o assunto à tona", conclui Raquel Custódio.
Tampouco a fiscalização é adequada. A emissão desses certificados fica por conta das federações estaduais e é sabido que, essencialmente nos clubes pequenos, não existe recursos para garantir assistência médica, odontológica, psicológica, exigidos pela lei, muitas vezes esses profissionais prestam serviços "para inglês ver", como destaca o psicólogo do esporte João Ricardo Cozac "boa parte dos clubes acaba tendo um psicólogo que só assina ali a carteira e vai de vez em quando e tal mas não são profissionais que tem a qualificação, a compreensão, a vivência para trabalhar no esporte".
A preservação dos direitos da criança e do adolescente é um tema que enfrenta muitas barreiras, mais reais que legais, sobretudo no futebol, afinal "não é interesse dos grandes, das pessoas que lucram com isso, trazer o assunto à tona", conclui Raquel Custódio.
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